O que o cantor Chico César fala da autora.
Cidinha da Silva é uma amiga minha que escreve como quem trança ou destrança cabelos e nos presenteia com pentes presentes cheios de passado que nos ajudam a destrinçar o futuro. Seus pentes são pontes de compreensão entre o que somos nós negros brasileiros agora, nossos avós recentes e os tais ancestrais africanos. Pontes entre nós e nossos filhos e sobrinhos, os que vêm depois de nós. Compreensão, aqui, eu digo que é aquele entendimento afetuoso, apaixonado e cheio de compaixão no sentido de gratidão pelo que se é. Pelo que nós somos: família, solidariedade e contradição na difícil tarefa de encontrarmos, cada um, nosso papel de levar adiante a história coletiva e ao mesmo tempo afirmar o traço intransferivelmente pessoal do indivíduo. Estar com a mãe e nascer, ser da família e ir embora, constituir a sua própria família (que ainda é a mesma). É aí que mora o penteado: saber qual é o pente que te penteia. Para os mais jovens, a quem se destina a princípio este livro, mas também para os nem tão jovens assim são generosas as pistas sopradas ao nosso ouvido por essa contadora de histórias. Escutadora atenta, agora vem a griot nos atentar doce e profundamente. Vem aqui nos alentar, desenchavando nós e ajudando-nos a achar laços nesse desconchavado mundo. Vem reforçar nossas ligações básicas, comunitárias, domésticas. É tão certeiro e tão bem-vindo esse livro que, lê-lo, encheu-me de orgulho e admiração. Pelo tema e pela forma. Sei que os próximos leitores de Pentes sentir-se-ão gratos a Cidinha da Silva, como eu.
(Chico César, compositor)
bem interesante
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